segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Janelas poéticas


Poesias são
como as janelas da alma
para um poeta

                                           Série: "Quase haicai"

Linguagem amorosa


Recuso-me a ser a ser
o objeto direto deste texto amoroso.
Não quero ser apenas sujeito
nem tampouco agente da passiva.

Não quero relações de orações subordinadas,
ainda que substantivas,
pois estão fadadas a uma eterna dependência
de sujeitos ou complementos.

Se formos orações coordenadas sindéticas,
ainda que aditivas,
podemos nos cansar das conjunções.

Quero uma relação
de orações coordenadas assindéticas.
Cada qual como seu próprio sujeito,
com seu tempo verbal e seus complementos,
numa relação justaposta.

Não deixemos que termos acessórios
sejam parte do nosso texto.
Escolhamos a linguagem direta,
composta apenas pelos termos essenciais!

Perderemos o lirismo,
até mesmo a poesia!
Mas nunca cairemos no risco
da prolixidade!

Amor a-fixo


Decassílabos heroicos perfeitos seriam
se houvesse uma narrativa épica,
seguido por uma elegia
para alguma tristeza neste cantar.

Um madrigal utilizaria se fostes uma bela mulher.
Para embalar nossos bebês: um acalanto.

Expressaria todo meu amor em um soneto.
Mas depois de Camões e Vinicius
poderia cair em repetição:
Pois que seja eterno enquanto dure.
Sem amor eu nada seria.

Em uma quadra encontraria
a rima do nosso compasso.
A simplicidade necessária em um haicai.

Mas este nosso romance
de fixo nada tem.
Não há neste amor simetria
nem rimas ricas, quanto menos as pobres.
Há somente corações apaixonadamente líricos.

Palavras perdidas


As palavras são apenas vazios
Batem na parede e ressoam dentro de mim
As acusações são vãs
Combatê-las-ei?


Devaneio
Quais palavras escolher?
Perdidas no vazio
do meu ser.


Querer


Qual pássaro que abandona seu ninho
serei eu capaz de abandonar
toda uma história acumulada por dias e dias?


Não passei mil dias em Veneza
ou em nenhum lindo paraíso histórico
apenas passei muitos dias trancada
dentro de minha própria existência.
Na escuridão e claridade
de meus próprios medos.


Superá-los é uma luta árdua
uma árdua luta diária
entre o que quero e o que sou.
Entre lilases e azuis rosados
e cinzas regados a beges pálidos
perdidos entre mares verde esmeralda
e águas cor de petróleo
entre risos e choros convulsos
que fazem de mim um ser
contraditoriamente absurdo.


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

A Lutadora


                                   ou inspirações Drummonianas

Lutar com palavras não é luta vã
luto todas as manhãs e tardes das noites enluaradas
descubro a chave e penetro em seu reino
as acordo com gritos lascivos de dor
apanho-as, todas
egoisticamente viciada
em seus sons e suas semânticas
seus coloridos divididos em diversos tons
seduzo-as
as uso despudoradamente
em supostas poesias inconsequentes
as domino à força
em uma luta corpo a corpo.

Palavra! Palavra
achada ou perdida.
És minha!
Não irei abandoná-la
não a farei subordinada de uma gramática qualquer
a deixarei livre
de pontos ou acentos ou regras
permitirei que se completes como queiras
pois serás minha escrava
no entanto serás livre.

Salva-lamento


Um anjo a salvou
estendeu-lhe a mão
quando estava mergulhada
afogando-se em sua inexistência

um anjo sério de cachos desalinhados
e olhar de cachorro carente
um anjo pornográfico
expulso do céu
por gostar de frequentar restaurantes alheios

estendeu-lhe a mão
e deu-lhe todo o resto
salvou-a de uma inexistência complexa
completamente insossa
sem palmadas nas nádegas

desafiou-a a suportar
o desafio de se auto-des-cobrir
deixou que andasse nua pela rua
engolisse a vergonha apenas com saliva
embriagou-a de êxtase
e foi embora

um anjo pornográfico a transformou
e hoje ela sorri pelas ruas.


Mulher


Sou seios
sou bunda
sou sorriso
sou fruta.

Sou cérebro
sou sucesso
sou palavras
sou solitária.

Sou mãe
sou amada
sou Amélia.

Que afinal queres que eu seja?


Janelas Descobertas


Na janela do terceiro andar
há um casal brigando.
No segundo um solitário assiste futebol,
embriagando-se.

A janela à esquerda revela uma silhueta feminina
dolorosamente nua.
Do quarto posso ver o mar.
Da lavanderia crianças brincam brigando
e brigam brincando.

Gosto mesmo é da sala.
De lá vejo enamorados amando-se
e amantes enamorando-se
enquanto espreguiço-me no sofá.

Voyeurismo?
Eu chamo curiosidade.
Janelas são portas abertas
ao mundo do alheio.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Brinde


Brindemos ao sorriso das crianças
que brincam alegremente.
Brindemos aos risos soltos, às gargalhadas
no meio do dia, sem motivo aparente.
Brindemos ao amanhecer,
à luz do dia, que entra pela fresta da janela,
nos arrancando do mundo dos sonhos.
Brindemos ao mundo real.
Às lágrimas e às saudades.
Brindemos à dor e à tristeza.
Brindemos aos ipês, que colorem a paisagem.
Brindemos aos amigos,
aos que ficaram pelo caminho,
e aos que caminham conosco a vida inteira.
Brindemos à paixão,
que faz o coração enlouquecer,
e deixa as pernas bambas.
Brindemos ao amor!
Motivo maior de vivermos.
Brindemos à vida!
Que renasce a cada amanhecer.

Luísa


Afasto as folhas.
O som do farfalhar de um vestido afasta-se rapidamente.
Corro entre as sebes seguindo seu perfume.
Ouço risos e canto de canarinhos.
Procuro entre arbusto seus cachos dourados.
Corro, corro.
Seus passos leves estão sempre a frente,
esconde-se de meus olhos.

Minha criança por que foges?
Deixa teu riso alegrar-me.
Permita aos meus dedos trançarem teus cachos,
arrumarem teu lindo vestido,
refazer teu laço.

Os passos param e o riso flui.
Alcanço-a.
Seu olhar peralta me envolve.
Seus pequeninos braços se abrem.
Você me pegou mamãe!


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

No parque, a esperança.


Aos companheiros da EMEF Parque Boa Esperança

A conversa fiada em volta da mesa.
O café quentinho num copo de plástico.
O abraço apertado no momento de dor.
O ombro amigo na hora das lágrimas.

Pendurá-los-ei pelas orelhas no teto!
Apaixonar-me-ei por sorrisos angelicais!

O pé atolado no barro.
Ah! Isso a gente esquece.
A bronca não merecida.
Essa a gente enaltece!

Boa, boa,
Boa a esperança
de no parque sermos felizes
presenciarmos o amor nascido e fortalecido.
Abençoado por Deus!

Desfile de misses,
com chapeis de cowboy.
Tapete vermelho cercado de flores,
vestidos de festa e
futebol de pernas de pau.

Cada qual uma história
todas encontradas e recontadas
no parque da boa esperança.
Todas serão guardadas
com carinho na lembrança.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Desaconselhamentos


Ah! Amiga minha
não prendas o futuro em tuas mãos.
Não escolhas, não se cobre,
apenas decida não querer decidir.
És linda e encantadora
inteligente e atraente.
Aproveite a vida!

A ânsia por ser feliz
acabará turvando tua felicidade.
Dar-te conselhos? Não posso,
dividirei contigo minha experiência.

Sejas triste, vivas o tédio, permaneças imóvel!
Quando se movimentar
o contraste tornará tudo
ainda mais belo e saboroso.

Siga a melodia!
Ela te levará por caminhos felizes.
Permita que o fogo vire fumaça
e guardes as cinzas
na tua caixa de confetes.

Descubra a liberdade que há em perder-se
sem rumo
num turbilhão de emoções.

Viva o que os poetas escrevem.
Apenas... viva!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Devaneios


Onde estará meu Chapeleiro Maluco?
Aquele que é louco
assim como são todos
os puros de coração.

O Coelho está atrasado
não me levou até ele.
Corro o risco de a Rainha Vermelha
arrancar-me de meu devaneio.

Como acaba o amor?
Assim como tudo acaba,
sem que possamos de fato
nos dar conta de que acabou!

Em que momento perdi?


Perdi meu anel da sorte
lá onde encontrei o azar.
Perdi minhas ilusões
lá onde encontrei a realidade.

Mas em que momento perdi?
Perdi meus sonhos
lá onde encontrei a dor?
Perdi, perdi, perdi.

Mas o que, enfim, eu perdi
foi minha capacidade de amar.


Amor


Ah! O amor!
Brinca e brinca
com esse pobre coração
perdidamente batendo descompassado,
atrapalhado e sozinho.
A procura de um outro coração
que o coloque no ritmo.

E o amor? Onde entra?
Ele brinca de se esconder e foge
do descompasso do meu ser.

"Você"


Pensamentos
Invadem minh'alma
Exaltam teu ser
Apenas sou capaz
de sentir teu gosto
impregnado em meu paladar

E sonhar
com o dia
em que uniremos nossos corpos
no perfeito encontro
da lótus.

Deixe-me



                             Voluptuosamente


Deixe que meus lábios
se percam na exploração
de seus sabores.

Deixe que minhas mãos
se apossem da infinidade
de sensações do teu ser.

Deixe que meu corpo
se perca no infinito
de tua volúpia.

Deixa,
Deixa,
eu me perder
em teu ser.

Encontro

Êxtase
            Paixão
                       Sexo
                              Sedução
                              Conforto
                              Reconfortante
Espaço
            Silêncio...
Suspiros ofegantes
               músculos contraídos
           Relaxamento
Carinho
            Sonolência
Sono
          Sonho
Encontro
              Chama
                           Infinitude.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Pensamentos


Meus pensamentos já não me pertencem
vagam incessantemente para onde não os quero.
Estão sempre perdidos em teu cheiro,
em teus beijos.
Mesmo que os chame,
que grite por eles!
Eles não voltam
querem apenas a ti.

E contaminam meu corpo.
Minha boca procura a tua,
minhas mãos anseiam por tua pele.
Tudo em mim se perde desejando você.