domingo, 9 de janeiro de 2011

Mente Insana


A mente insana
perde o seu rumo em um
olhar passageiro.

Silêncio que grita


Quando nos calamos
temos muito a dizer
há uma alma
que chora e sofre
pede silenciosamente
um único
abraço...

Sutilmente te quero


Quero-lhe calmamente...
com a sutileza
que só possui aqueles
capazes de amar.

Os quais se entregam,
permitem que o amor
seja seu mundo e
o sentido que permeia
sua alegria e
seu viver.

Infância


As brincadeiras embaixo do abacateiro,
colher ameixas, amoras, morangos silvestres,
cheiro de orvalho nas manhãs de inverno,
contas recolhidas na beira do riacho,
bambus dançando com o vento,
incontáveis roupas de bonecas,
cerzidas por mãos pequeninas e atrapalhadas,
riscos no chão com pedaços de tijolos,
esconderijos secretos,
hortênsias com seus tons de azuis e lilases,
mexericas azedas e bananas verdes,
explorações sem fim na mata ao redor.

A casa velha,
palco de nossas fantasias.
O quintal do terra,
palco de nossas brincadeiras.
O riacho,
palco de nossas artes.
Éramos felizes, apenas não sabíamos.

Recrio-te em mim


Recrio tua presença em pensamento.
Vivencio os momentos compartilhados por nós.
Esquecer-te me é impossível.

Quero arrancar-te de meus pensamentos,
do meu coração descompassado,
apagar da memória teu olhar.

Tentativas vãs marcam meu dia.
Quanto mais tento esquecer
mais recrio-te em mim.

O pianista


Seus dedos longos
percorrem as teclas do piano.
O som límpido e alegre
preenche o ambiente.

A voz de tenor italiano
inicia o canto.
Todos fazem silêncio
apreciam o momento que é teu.

A luz ilumina teu nariz adunco
e os raros fios brancos
que compõem teu charme.

Neste momento deixastes de existir
existe apenas tua arte,
teu cantar envolvente e alegre,
teus dedos a acariciar o piano.

Palavras que tentam, inutilmente, serem poesia.


Choro compulsivamente,
minhas lágrimas molham o colo
que tanto me alegra
e que neste momento me consola.

Agora sabes por que te amo?
Porque me levas ao êxtase
e com a mesma voz,
suave e rouca, dizes:
-- Chora!

Então choro
por perder-te,
porque nunca fostes meu,
por amar-te,
por saber que mais uma página
será preenchida
com palavras que tentam,
inutilmente, serem poesia.

Lembranças


Quando olho dentro de mim
vejo a escuridão da minha mente.
Vejo os medos que tenho.
Posso ouvir o barulho do mar e sentir seu cheiro.

Posso sentir os cheiros...
de terra molhada e manga verde.
Papel velho, suor e perfume doce.
Doce de leite no fogo.
Angu, mato molhado e milho verde.
Todos cheiros de uma infância feliz e triste
perdida entre o se perder e se achar
de dois adultos que nunca se encontraram.

Quando olho dentro de mim vejo
a persistência de quem quis
ir atrás de seus ideais.
Vejo as dores e as cicatrizes
de inúmeros fracassos e derrotas.
Vejo a dificuldade de esquecer os laços rompidos.

Vejo tanta coisa e não vejo nada
pois há somente o extremo vazio que me consome.

Porém, no fundo vejo
a enorme esperança
de preenchê-lo,
de amar
de ser feliz
de esquecer para sempre o passado.
Por os olhos no futuro
e viver intensamente o presente.

Sonho, sonho apenas...


Sonho com o amor
que me fará sorrir,
me aquecerá no frio,
me protegerá da dor.

Sonho com o amor
que cuidará de minhas chagas,
me ensinará a cultura grega e oriental.

Sonho com o amor
que preencherá os meus dias.

Sonho com o amor
ao qual entregarei meus carinhos,
afagos e sorrisos.
Ao qual alimentarei com minha vida
e ensinarei os caminhos desvendados.
Ao qual me entregarei
sem regras,
sem limites,
sem pudores,
sem medos.

Sonho com o amor
imperfeito e torto,
quente e saboroso.

Sonho, sonho apenas...
com o amor.

Dividas comigo


Dividas comigo
o pão dos famintos,
o remédio dos doentes,
o consolo dos fracos,
a vitória dos fortes.

Dividas comigo
o chorar dos tristes
O riso dos felizes,
o saber dos sábios,
a fé dos religiosos

Dividas comigo
tua existência,
tua sabedoria,
teu amor
e dar-te-ei meu coração.

Cala-me


Cala minha alma
para que não mais emita sons guturais
pela dor da distância.

Cala minha alma
para que não mais grite ao mundo
a falta que sente.

Cala minha alma
para que não mais sussurre ao vento
a saudade que a consome.

Cala minha alma
com um encontro de lábios
um abraço apertado
e o som da tua alma
a gritar que me amas.

Resumo do universo


Quero tocar teu cabelo,
ver teu sorriso meigo.
Ouvir-te dizer “eu te entendo”.

Quero sobretudo abraçar-te.
Segurar-te apertadamente
em meus braços.

Permitir que por instantes
nossas almas se unam
e sejamos apenas
uma soma perfeita,
um verso rimado
um acorde suave ou
o resumo do universo.

Quem sou eu?


Talvez eu seja
o calor do dia,
o frio da madrugada,
o sibilar do vento,
o cantar das águas.

Talvez eu seja a dor da ferida
o calor do abraço,
o sorriso da criança,
o sabor de um afago.

Talvez eu seja o prazer do encontro,
o cantar de um pássaro.

Talvez seja apenas um viajante
perdido na trajetória da vida

Talvez eu faça a vida
ou apenas a sinta.

Motivos


Escrevo para esvaziar o meu ser.
Tento colocar em símbolos linguísticos
as palavras que se calam em minha voz.

Escrevo para aplacar a dor,
registrar as alegrias,
tornar eterno o amor.

Escrevo porque palavras são
a forma que encontrei
para me encontrar.

Vida


Olhai!
Olhai as flores,
as nuvens,
as árvores,
as crianças.

Escute!
Escute o som
do vento,
dos pássaros,
das vozes.

E sinta!
Sinta o calor,
o frio,
a dor,
a alegria,
a fome,
o amor.

É a vida
a percorrer os labirintos
de tua existência.

Alívio e dor


Adagas cortam suas entranhas.
Poças vermelhas.
Olhos fechados,
face pálida e mãos frias.

Lágrimas acompanham o cortejo fúnebre
a cova preparada a recebe.
No rosto de quem sobreviveu,
alívio e dor.

Invade minha alma


Invade minha alma
dor tão pungente
e lúgubre.
A profundeza do vazio
expande-se.
Apossa-se de tudo
que um dia fui.
Apaga o que hoje sou.
Corrói meu âmago.
Impede-me de ver
as sutilezas de uma existência
profundamente mergulhada
no mundo que criei
em meus sonhos.

Meu coração alegra-se


Dedos deslizam,
desbravam cachos,
cortam-se no emaranhado
dolorosamente amado.

Cabelos revoltos
ondulados ao vento.
Olho meigamente para
o rosto que possui
os belos e amados cachos.
Meu coração alegra-se.