segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Cortes

 A tristeza foi retirada a navalha de um peito febril
deixou cicatrizes profundas em cortes irregulares
passados a ferro e marcados a carvão em brasa
sentiu a leveza que se apossava de sua alma
enquanto escondia sob tecidos floralmente acetinados
as dores que arrancara de si
sorriu para si mesma diante do espelho de moldura envelhecida
como sua pele, com precisão cirúrgica
munida de seus polegares humanos
retirou os últimos pedaços dolorosos
escondidos detrás de uma costela
mergulhou em água fervente e deixou 
queimar dentro de si as chagas arrancadas
com toneladas a menos começou a correr
cruzou a cidade, o estado e largou o país
longe de tudo e de todos recomeçou
plantou canteiros de flores e manjericão
respirou profundamente o ar marinho
e sorrindo reencontrou o amor.

Caminhando pela vida

perco-me em seus horizontes
de olhares meigos
rostos sorridentes
e corações descompassados
enquanto danço na chuva
os cabelos esvoaçam
os horizontes mudam a paisagem
apenas mais uma dança
um novo sorriso
um novo caminho
a passagem é rápida
cara ou barata não espera decisão
é agora, o presente
o horizonte sorri de olhos fechados
e braços abertos
aventuras errantes
caminhos tortuosos, curvilíneos,
montanhosos
uma reta careta sempre a espera
fugitivos que somos do ontem
um horizonte bamboleante
embriagador em jasmins e rosas brancas
perco-me
a estrada é sem fim
tem sempre uma curva
há sempre uma reta após a montanha

domingo, 4 de dezembro de 2011

Hipérboles de saudades

Homenagem aos formandos de 2011 da EMEF Mitsutani I Jornalista Paulo Patarra

Há amores que nascem nos jardins
os que nascem nos corredores da escola
há até amores nascidos em portões
e há amores nascidos entre
verbos e conjunções
regados a muitos artigos de opinião.

Esse é um amor duradouro
pois nasceu nome, virou característica
e finalmente foi conjugado em
pretérito, presente e o será no futuro
pois amor nascido no reino das palavras
segue um rumo singular e
não há plural que o destrua.

Supera as diferenças de gênero
as antíteses do caminho
e como este não é um amor eufemista
ele se faz sinestésico
e explode em hipérboles de saudades.

O amor do poeta

o poeta fala de amor
do amor da menina
e do rapaz

o poeta fala de amor
com maestria e de
modo perspicaz

o poeta fala de amor
de maneira solene e bela
criando encantos

o poeta fala de amor
tão singelamente
que o amor nos invade

o poeta não fala de amor
ele se cala 
porque não consegue 
traduzir em palavras
o amor que o consome
então, o poeta entende
que falar de amor 
é para quem não ama