segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sou, palavra.


Descubro-me invocadora
de palavras febrilmente reencontradas
procuro-as unicamente para definirem
quem sou.
 
Sou palavras, sou formada por sílabas
unidas uma a uma
em um emaranhado sem fim
de um léxico complexo
perdido e indefinido
extremamente latino em seu desuso
e anglo-saxão em seus excessos.

Sou palavra, formada por letras
unidas e separadas a meu bel prazer
um tanto quanto vocálica
um tanto quanto consonantal
unicamente para explodir
em sons métricos e ritmados.

Sou palavra complexa
sem ter minha semântica
em dicionário algum.
Sem sentido, sem som
apenas uma justaposição
amalucada de sufixos e radicais.

Ao que me é importante

Não me importa que todas as manhãs saias rapidamente
se a noite estiveres ao meu lado.
Não me importa se o frio vem na madrugada
se me aqueces em teus braços.

Não me importa o silêncio
se ouvi a tua voz em meus sonhos.
Não me importa se as lágrimas chegam
se teus dedos as retiram da minha face.

Não me importa a solidão
se é provocada por tua ausência.
Não me importa a dor da perda
se um dia pude tê-lo ao meu lado.

Monólogos


                                                                                    a  meu amado anjo
Recrio-te em minha frente, com perfeição inimaginável.
Inspiro demoradamente o aroma que é teu.
Desmancho em meus dedos, um a um, teus caracóis
e conversamos, longamente, sobre tantos assuntos.

Entre sorrisos e afagos, timidamente meigos,
contas-me como foi o teu dia.
Recrias as histórias de reis e imperadores
e as reconta magicamente.

Mas, nossas longas conversas
são apenas monólogos sem fim.
Ocorrem unicamente em minha mente.
Não me contastes o que fizestes,
nem tampouco teus medos, receios
ou teus antigos amores.

Sei apenas que fazes parte dos meus sonhos,
que te fantasio a cada anoitecer
e espero, silenciosamente,
que nossos monólogos se tornem
conversas sem fim.

Palavras retoricamente mudas


Palavras. Palavras. Palavras?
Sóis apenas palavras mudas
escondendo-se embaixo
de retóricas infindáveis.
Mostre-me a pureza dos simplistas
e como flecha atinja o alvo!
Não permitas que as palavras
façam de ti um escravo
inconsequente, indizível
retoricamente prolixo
ou prolixamente político.