terça-feira, 17 de julho de 2012

Infância?


Lacrimeja o céu
sob a noite cinza.
Olhas ao redor
e a multidão ignora-te.
O vermelho de teus olhos
afasta de ti os alentadores invasivos.
Teu peito arfa ritmadamente,
tuas mãos estendem-se ao vazio
e ele se apodera do teu ser
consumindo tuas forças.
O nada se apodera de ti.
És o nada na noite,
umidamente cinza,
de luzes amareladas e distantes.

Palavras despudoradas


                                            Pequena homenagem ao poeta Edgar Izarelli

Palavras despudoradas
abandonam ao poeta sem ao menos dizer adeus.
Correm pelos corredores de sua mente
sem permitir que as agarre.
Escondem-se, cansadas que estão
do uso e desuso que as escraviza.
Passam a ser letras perdidas
nas folhas em branco.

O poeta em desespero revira os dicionários,
as enciclopédias e até os receituários.
Corre pela cidade a procurá-las.
Até o psicólogo intervém.
Mas as palavras resistem
e o poeta abandonado afinal desiste.

E no silêncio de si mesmo
encontra uma palavra perdida.
Uma segunda acena ao longe.
E aos poucos, cheias de inspiração,
elas voltam ao papel
e o poeta recria seu mundo.

Silêncio


O silêncio profundo
é cortado por seus soluços
a dor a invadir suas entranhas
a levava de volta à escuridão do medo
as janelas fecharam-se
recolheu-se na mais profunda solidão
não pôde impedir que o vazio voltasse
sentiu-se devorada por ele

a luz do sol não a retirou da escuridão
por tempo suficiente para que suas chagas fossem curadas
uma a uma as cicatrizes abriram-se em seu peito
e o sangue escorreu vertiginosamente por seus dedos
sentindo-se cansada demais para estancá-lo
permaneceu imóvel
esperando que a dor a consumisse lentamente
até que retornasse ao pó