domingo, 28 de novembro de 2010

Liberdade


Rompas de uma vez as correntes
que te separam do teu desejo
Erga-se diante do mundo
e escolha a teia que te prenderá.

Peques, permita que a loucura
inebrie teu espírito.
Entrega-te aos prazeres solitários
e o partilhe apenas com tua escolhida.

Desnorteie-se sem medos,
pois o norte pode não ser
a direção da tua existência.
Esqueça os padrões, as imposições.
Enlouqueça!


A ti


Um leve tremor perpassa meu corpo
sinto-me inebriada pela proximidade
profundamente permito ao teu cheiro
invadir minha mente.


Sinto o veludo de tua voz
a maciez de teus lábios.
Perco-me em sensações
dispersas, alucinantes,
esclarecedoramente profundas.


E ao me perder
me encontro em ti.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Escuridão


A dor pungente invade meu coração.
Lágrimas de sangue escorrem de minha alma.
Perco-me neste universo de abandono
ao qual me resignei a coexistir.

Apenas uma tristeza cinza
acompanha meus nebulosos dias,
nem mesmo o sol vem alegrar-me.

A desesperança é minha companheira constante.
Procuro desesperadamente uma saída
deste labirinto de dor que tornou-se meus dias.

Apenas a escuridão total poderá ser meu refúgio?
Em seu silêncio encontrarei a paz?
Arranque-me daqui,
quero ver o sol mais uma vez...

Confissões


Em teu olhar encontro um mundo
repleto de silêncio.

Procuro por ti em meio a multidão
e me perco em pensamentos profanos.

Enrosco meus dedos em teus caracóis
e aspiro o cheiro que é teu.
Meus lábios roçam
tua pele macia
e lhe vejo sorrir.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Vazio


Sinto muito se me resta apenas aceitar
que as cores emudeceram
que o sol descansou
que a maciez de tua voz já não será ouvida

Apenas ficou o que desconheço
mãos desconhecidamente frias
lágrimas estranhamente tristes
abraços de rochas e palavras de espinho

o vazio em meus braços
o silêncio em meu coração


Universo das palavras


Palavras inundam meu mundo.
Arqueio-me diante de seu poder.
Enquanto procuro desvendar o universo
em que o menino que procurava amigos no jardim
foi encontrado de pijama listrado.

A menina que roubava livros esconde-se no porão e
penetra profundamente no reino das palavras.
Santiago perde seu valioso peixe.
A dúvida faz de Bentinho um Casmurro.

E Anna – Ah! Pobre Anna! - jogou-se debaixo do trem,
diante de todos que ensaiavam sua cegueira pela guerra e pela paz.
Apenas o jogador pôde perceber que crime e castigo andam juntos,
algo insignificante para um alienista
que prendeu o sargento de milícias num convento.

A vida seca dos sertões levou embora a asa branca,
deixou apenas o menino do engenho
descobrindo a amizade da cachorra Baleia

Mas não se preocupe amigo
Estamos salvos na cabana

Reconstrução


Descubro-me fragmentos.
Cacos de um espelho.
Pequenos pedaços
repletos de emoções.
Inquieto-me e os junto,
um a um, geometricamente,
tentando - qual a fênix mitológica -
renascer...
Envolta nas cinzas de um mundo
que aprendi a temer e respeitar.
A cada peça encaixada busco
pela mulher que não sou,
pela menina que um dia fui.
Reconstruo meu avesso,
refaço meus sonhos,
e tento ser real...
para um dia voltar a
sonhar novamente.

sábado, 6 de novembro de 2010

Quanto serei capaz de querer?


Quanto de minhas palavras amargas engolirei
antes de morrer envenenada?
Quanto sou capaz de suportar?
Quanto sou capaz de abandonar?

Quero sentir a leveza de ombros
que não encaram o mundo
suportando toda a culpa do universo.
Quero sentir minha voz ecoando
o canto de uma liberdade
que não será a escolha de qual caixa habitarei.

Quero liberar palavras de amor e conforto
antes de me sentir sufocada
           pela minha própria existência.

Apenas acreditar que posso liberar
todo o peso de dores
          acumuladas em uma vida inteira.

Apenas apagar
         cada cicatriz.
Mas não sou capaz de ver
as trancadas em meu peito.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ritmo


Risos frenéticos
Buzinas apressadas
Vozes exaltadas
Crianças gritam
Passos ressoam

Silêncio, é apenas o que ouço dentro de mim
Neste momento apenas vivo os sons da metrópole
E meu coração segue seu ritmo atordoado.

Cores


Profusão de tons de azul e verde
invadem minha retina.
Tento diferenciá-los,
mas percebo que são apenas um.

A luz cega-me temporariamente.
Atordoado esfrego os olhos.
Ao abri-los, deparo-me com uma
combinação de lilases exuberantes

Respiro fundo,
as cores e o cheiro,
agrestemente salgado,
invadem-me.

Uma profusão de cores desfilam
em cada uma
um cheiro novo, um gosto novo
a um velho cansado
redescobrindo a vida.

Olhares



Meu cachecol é vermelho
Meu rosto é apenas o reflexo de seu tom
Não é resposta ao olhar incisivo
que recebo de um estranho


O que invade sua mente?
Sabe quem sou?
Conhece meus pecados?
                                 Ou pior
sabe de meus rompantes de bondade?


Evito olhá-lo
Sinto medo
O medo que invade a todos os pecadores
que temem ser descobertos.


De repente o sinal e as portas se abrem
Desço apressadamente, estação errada,
mas livro-me do olhar estranho.


Mergulho


Sim, tenho coragem
Mergulho fundo
Sinto minha pele arrepiar-se na superfície fria encontrada
Primeiro apenas o frio

Diminui e aos poucos
Outra sensação se aproxima
Não ouço, não vejo, apenas sinto
A água apodera-se do que era
Agora apenas água
Seus sons, seu gosto, são meus

Barbatanas e escamas aparecem
Posso respirar
Abro os olhos
Apenas o azul

Foi saudade então



Foi saudade então
O reflexo dos cachos dourados
O som do riso doce
os passos vibram no chão de madeira
a saia gira e gira e gira
A canção toca

Foi saudade então
A face rosada
o olhar zombeteiro
ainda pedem para ir lá fora

Foi saudade então
A boneca largada a um canto
O doce pela metade
Denunciam
Saudade não é em vão