sábado, 23 de julho de 2011

Poetizando


Duas poesias não nascem no mesmo dia.
Competem entre si e
não aceitam dividir o mesmo espaço.
Querem fidelidade
até esgotarem-se em matéria sólida
independente.

Poesias nascem na maioridade,
não aceitam o pertencimento,
são livres e voláteis.
Fazem do poeta apenas aquele
que lhe dará a luz.
Dividem o léxico, mas
nunca a semântica.

Poesias são mulheres
habilidosas na arte de seduzir
nunca se entregam.
Revelam-se aos poucos
como um conta-gotas
de sentimentos únicos.
Mostram-se como querem
amorosas, raivosas, leves ou densas.
Não se prendem à sons, métricas ou rimas.
Exploram as cores,
os sabores, os odores da língua
Recriam, reciclam, colorem a vida.

Conhecimento


Sentada em seu trono
com a mais fina rede
tecida por psicanalistas, filósofos, artistas
e todos que buscam compreendê-la,
a consciência pesca,
em um mar de pensamentos sem fim,
as palavras que a comporão.
A antítese da linguagem
e expressão de autodescobrimento.

Tenho medo


Tenho medo
do frio da noite,
do desconhecido,
do impensado,
do impraticável.

Tenho medo
do ontem,
do hoje,
do amanhã,
do futuro impensado
ou ausente.

Tenho medo
do medo
que me impede de arriscar,
que é meu freio
em uma vida descabida,
escondida e vulgar.

Tenho medo
e o renego
desprezo, supero,
pois tenho medo
mas o medo
não me tem.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

És complexidade serena

És a um tempo
ausência e sentimento
perdido no infinito
do universo.

És  brisa na primavera
a florescer
os telhados cinzas
da metrópole
em que me perco.

És infinitude e temperança
em um mar
de estrelas sem fim.

És filosoficamente
contradição,
a ação contrária
do ser.

És existência
complexa, perdida
voluptuosamente ausente
ainda que
se faças presente.

És boemia
regada a orações pagãs,
feita de matéria volátil
levada pelo  vento do norte.

És caça e caçador
em tuas andanças
pelo sul real,
abrigando pássaros de flores
e alimentando-se
do amor.

Sol poente

Os últimos raios do sol
refletem no infinito espelho
de um verde escurecido
pela mata ao redor

As folhas dançam suavemente
ao som de um acorde imperceptível.
As águas seguem o ritmo
do doce cantar dos pássaros.

A orquestra ganha vida
enquanto os raios dourados
brincam de esconder-se
entre a mata ao redor.

Mesmo nuvens estacionam
a admirarem o espetáculo.
O grande astro reina
e tocam seus raios, como suaves beijos,
a água límpida.
Este amor, embalado pelo cantar dos pássaros,
gera filhos amados, majestosos,
de imponente porte, grossos caules,
infinitos tons de verde
e abundante beleza.

Inspiração - Represa de Itupararanga (Ibiúna)

Gato vira-latas

Um gato sobre o telhado
inicia seu cantar.
Um gato vira-latas
desses mau-tratados
que encontramos na porta de um bar.

Em seu cantar há tristeza
e também certa beleza
que nos leva a chorar.

- Ah, gatinho!
Abrigo quero lhe dar,
lhe encher de carinho
e ouvir o seu cantar.

É um gato mau-amado
cheio de vontades
que se recusa a ficar.

Gato vira-latas
quer mesmo é liberdade
para nos telhados cantar.
Sem amor, sem carinho,
pois sabe para onde voltar.